quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

PASTELARIA


(Jon Gausdal)

PASTELARIA

"Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura.
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio.
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante.
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício.
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola.
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra"


Mário Cesariny - Nobilíssima Visão (1945-1946), burlescas, teóricas e sentimentais (1972)

3 comentários:

Charlotte disse...

Um sorriso à Cesariny, com os dentes todos, lavados e brancos, à mostra. Não conhecia o poema e a-do-rei! Até logo...

Pata Negra disse...

Também não conhecia o poema, já o mesmo não digo do prédio da fotografia - parece-me que o conheço embora, o mais provável, seja não o conhecer! Também me parece que te conheço dum prédio assim, ou será do poema?!
Um abraço a caminho do sul

Camolas disse...

Charlotte: Dentes brancos lavados e prontos a "morder" se as circunstâncias o exigirem.

Patorra: Conheces de coimbra, de uma rua perto do Parque e que se dirige para a Alta.